ATA DA NONAGÉSIMA QUINTA SESSÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 06.8.1991.
Aos seis dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e um
reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de
Porto Alegre, em sua Nonagésima Quinta Sessão Ordinária da Terceira Sessão
Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze
minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente
declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulso
cópias da Ata da Nonagésima Quarta Sessão Ordinária que foi aprovada. À MESA,
foram encaminhados: pela Vereadora Letícia Arruda, 19 Pedidos de Providências e
02 Indicações; e pelo Vereador João Motta, 01 Projeto de Lei Complementar do
Legislativo nº 22/91 (Processo nº 1133/91). Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios
n°s 413, 414, 415, 416, 398 e 399/91, todos do Senhor Prefeito Municipal de
Porto Alegre; 1156/91, da Secretaria de Estado da Educação; Carta enviada pela
Associação dos Servidores da CORAG ao Diretor-Presidente daquela Companhia; e
de Projeto de Lei de autoria do Deputado Estadual Osvaldo Bender. A seguir,
face a Requerimento de Licença para Tratamento de Saúde, aprovado no dia cinco
do corrente, do Vereador Décio Schauren, o Senhor Presidente declarou empossado
na Vereança o Suplente Heriberto Back, informando que sua Excelência já
prestara compromisso regimental nesta Legislatura, ficando dispensado de
fazê-lo, e informando, ainda, que passaria a integrar a Comissão de Educação e
Cultura. Também, ressaltou cessar-se nesta data o período de Vereança do
Suplente Antonio Losada que se encontrava na substituição do Vereador Décio
Schauren. Após, foi aprovado Requerimento do Vereador Clóvis Brum, solicitando
Licença para Tratamento de Saúde no período de seis a nove do corrente. Em
continuidade, o Senhor Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente
João Bosco, informando que Sua Excelência já prestara compromisso regimental
nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, e comunicando que passaria a
integrar a Comissão de Justiça e Redação. A seguir, nos termos do artigo 100 da
Lei Orgânica do Município, Tribuna Popular, o Senhor Presidente concedeu a
palavra ao Senhor Paulo Guarnieri, Presidente da União das Associações de
Moradores de Porto Alegre – UAMPA, que pronunciou-se acerca da problemática do
transporte coletivo na Cidade. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador Lauro
Hagemann comentou fato ocorrido quando da visita do Senhor Nelson Mandella, ao Brasil,
sobre o Título Honorífico de Cidadão Emérito concedido por esta Casa, e de sua
autoria, solicitando esclarecimento sobre a entrega desse titulo ao
Homenageado, dizendo sentir-se constrangido diante da Tribuna para
pronunciar-se a respeito do assunto, uma vez que fora entregue ao Senhor Nelson
Mandela o Título de Cidadão de Porto Alegre, através do Vereador Clóvis
Ilgenfritz, em Brasília. O Vereador Wilson Santos reportou-se ao pronunciamento
do Presidente da UAMPA, Senhor Paulo Guarnieri, ressaltando que o Prefeito
Municipal não poderia fixar tarifas que não fossem estritamente dentro da Lei
nº 5891, citando artigo sétimo dessa Lei. Falou, ainda, sobre processo que
denunciou o Prefeito Municipal de Porto Alegre ao Ministério Público. Em
COMUNICAÇÕES, o Vereador Vieira da Cunha discorreu sobre posição da UAMPA
acerca do transporte coletivo de Porto Alegre, dizendo que, em campanha
eleitoral, o Prefeito e o Vice-Prefeito denunciavam os custos das tarifas de
ônibus e, ainda, sobre as intervenções nas empresas de transporte coletivo,
feitas pelo Prefeito Olívio Dutra. O Vereador Dilamar Machado falou sobre a
elaboração da Lei Orgânica do Município pelos Vereadores deste Legislativo,
inclusive com a participação do Partido dos Trabalhadores, denunciando que o
Executivo, hoje, está cometendo um crime de omissão de socorro às classes
populares na área de educação, com isso descumprindo a Lei Orgânica. Às quinze
horas e quatro minutos, os trabalhos foram suspensos, nos termos do artigo 84,
III, do Regimento Interno, sendo reabertos às quinze horas e dezoito minutos,
constatada a existência de "quorum". Em COMUNICAÇÕES, o Vereador João
Motta referiu-se às críticas feitas pelos Vereadores Dilamar Machado e Vieira
da Cunha, à Administração Municipal, informando que os Governos do Rio de
Janeiro e deste Estado estão se aproximando do Presidente da República de forma
política e não administrativa, ressaltando, dessa forma, que no discurso tudo é
possível, analisando a idéia, a respeito, do Líder Nacional do PDT. O Vereador
José Valdir informou que há divergências entre seu Partido e o PDT no que se
refere ao turno integral nas escolas. Ressaltou a importância da qualidade da
educação e não apenas da quantidade da mesma. E, ainda, discorreu sobre a
democratização da escola com melhorias de salários aos educadores. O Vereador
João Dib falou sobre Pedido de Informações questionando sobre a bimestralidade
dos municipários de Porto Alegre e, ainda, sobre o cumprimento do artigo 125 da
Lei Orgânica do Município, no que se refere ao esgoto cloacal desta Cidade. O
Vereador Nereu D'Ávila referiu-se sobre seu estado de saúde, quando esteve
afastado deste Legislativo, ocasião em que ouviu entrevista do Vereador João
Dib num programa da Rádio Gaúcha, em que o referido Vereador procurou
desmoralizar esta Casa, dizendo que a Câmara Municipal possui funcionários em
demasia e não serem necessárias sessões diárias. Após, os trabalhos foram
suspensos, nos termos do artigo 84, I, do Regimento Interno, por dois minutos,
sendo reabertos às quinze horas e cinqüenta e seis minutos, constatada a
existência de "quorum". Em COMUNICAÇÕES, o Vereador Ervino Besson
falou sobre projeto de sua autoria em que regulamenta a construção de postos de
gasolina em Porto Alegre. Referiu-se, em especial, àqueles postos que estão
sendo construídos na zona sul da Cidade, em áreas residenciais e próximos de
escolas. O Vereador Omar Ferri discorreu sobre o pronunciamento do Vereador
João Dib quanto aos gastos públicos exagerados da Administração Municipal,
informando que existe uma maneira de frear essa incontinência, através do
artigo 125 da Lei Orgânica do Município. Ressaltou, também, sobre a construção
de postos de gasolina em praças públicas, colocando, assim, em risco a vida da
população porto-alegrense. Informou, ainda, que o Prefeito Municipal não
regulamenta as Leis outorgadas por este Legislativo. Após, o Senhor Presidente
convidou os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada às
dezessete horas. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou
encerrados os trabalhos às dezesseis horas e dezoito minutos. Os trabalhos
foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador
Leão de Medeiros. Do que eu, Leão de Medeiros, 1º Secretário, determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor
Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Informamos que o Ver. Heriberto Back assume, a
partir desta data, a Vereança em substituição ao Ver. Décio Schauren aprovada
no dia 5 de agosto.
Nos termos do art. 100 da Lei Orgânica do
Município de Porto Alegre, teremos a Tribuna Popular, e a entidade que se
manifestará é a União das Associações de Moradores de Porto Alegre – UAMPA –,
através do seu Presidente.
Com a palavra o Sr. Paulo Guarnieri.
O SR. PAULO GUARNIERI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, companheiros do movimento, Srs.
funcionários da Casa. Hoje o tema que nos traz à Câmara de Vereadores, no uso
da Tribuna Popular, é o transporte coletivo por ônibus do nosso Município, transporte
coletivo que leva os trabalhadores ao seu local de serviço, que leva os
consumidores para os grandes centros de comércio, de prestação de serviço, que
leva os estudantes para as escolas, enfim, o transporte coletivo que é a
verdadeira correia de transmissão dessa máquina que denominamos sociedade. Por
isso, entendido como serviço público essencial. E nós chamamos atenção para a
forma como é tratado o transporte coletivo em Porto Alegre. Existe um
percentual embutido na tarifa a título de depreciação da frota. Esse
percentual, ao fim de dez anos, recompõe a frota do transporte coletivo em
oitenta por cento. Em dez anos, nós temos depreciado todo valor dos veículos
que rodam, prestam esse serviço público essencial. No nosso entendimento, Srs.
Vereadores, a reposição da frota é obrigação dos empresários, sim, e muitos
alegam que o percentual para a renovação é reduzido. Até pode ser, mas se desde
que a lei é lei esse percentual fosse integralmente investido na reposição da
frota, será que os empresários encontrariam as dificuldades que dizem que
encontram? Será que, historicamente, esses percentuais não foram desviados para
outras aplicações, que não o da reposição da frota? Os empresários, com a
avidez de maximizar seus lucros na exploração do transporte coletivo,
sucatearam a frota, essa é a verdade. E qual foi a resposta da Administração
Pública a esta situação? O “plus” tarifário, que todos conhecem, medida que
fazia o trabalhador pagar novamente na tarifa aquilo que já havia pago, e que o
empresário não utilizou no que era devido. O “plus”, cassado na Justiça, que
tirou a possibilidade de dessa forma descarregar sobre o ombro do trabalhador a
reposição da frota, levou a Administração a uma outra atitude, a qual,
particularmente, queremos chamar a atenção: 481 ônibus da frota do transporte
coletivo por ônibus de Porto Alegre foram retirados da planilha, continuam
rodando, continuam dando lucro para os empresários, mas eles não aparecem no
cálculo da tarifa. Então, o que é isso, se não mais uma forma de fazer o
trabalhador pagar novamente aquilo que já pagou uma vez, a depreciação da
frota, a reposição da frota, que presta o serviço público, e gosto de frisar
isso, essencial. Alguma coisa tem que ser feita, Srs. Vereadores. Esta é a
reivindicação que a UAMPA traz a esta Casa: o trabalhador pagou uma tarifa por
um serviço; tanto o serviço como a tarifa, no que se refere à continuação desse
serviço, que tem um caráter público, sim, no qual deve ser investido com um fim
público. Então, não podemos admitir o desvio da verba que é para reposição da
frota. Isso deve ser cobrado, e não se deve cobrar mais uma vez do trabalhador.
Tudo isso, na nossa avaliação, se deve a
uma única coisa: a política de transporte coletivo que adotamos é dissociada da
finalidade do serviço público de transporte coletivo. Temos, num vértice,
apontando num sentido do vetor, a empresa privada, o interesse privado; no
outro sentido, aposto, antagônico e irreconciliável, a finalidade do serviço
público. Então, isso nos remete a uma certeza: a de que precisamos, é
necessário, um novo projeto, uma nova política para o transporte coletivo por
ônibus em Porto Alegre. A UAMPA está se empenhando em discutir essa proposta.
Ela está em elaboração no movimento comunitário; tão logo estiver pronta, traremos
à sua apreciação.
Agradeço a todos pela atenção. Ao apertar
a mão do Sr. Presidente em exercício, terei cumprimentado a todos. Muito
obrigado. (Palmas.)
(O Sr. Paulo Guarnieri cumprimenta o Sr. Ver. Airto Ferronato, que preside a Sessão.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Em
votação o Requerimento de autoria do Ver. Clóvis Brum, solicitando licença por
quatro dias para tratamento de saúde a partir desta data.
Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores
que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
Assume, em seu lugar, o Ver. João Bosco Vaz, S. Exª integrará a Comissão de Justiça e Redação.
O SR. PRESIDENTE:
Para uma Comunicação de Liderança, está com a palavra o Ver. Lauro Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, assomo à tribuna esta tarde para abordar
um assunto que não me é agradável.
Em 1985, há seis anos, portanto, se
desencadeou no mundo uma campanha em prol da libertação do líder negro Nelson
Mandela. Nelson Mandela estava condenado à prisão perpétua na África do Sul,
inclusive se temia pela sua vida, porque, mesmo da prisão, ele continuava com
seu poder de persuasão e de convencimento sobre uma imensa massa negra que era
oprimida pelo regime do apartheid.
Em função dos apelos mundiais que se fizeram a partir daquele ano, em favor da libertação de Nelson Mandela, tive oportunidade de apresentar na Câmara de Vereadores um Projeto de Lei, que foi aprovado, concedendo o título de Cidadão Emérito ao Sr. Nelson Mandela.
Não quis afrontar a Câmara com um projeto
dando título de Cidadão de Porto Alegre ao líder negro preso e condenado à
prisão perpétua, porque achei, pessoalmente, que seria uma pretensão demasiada.
Mas por significar o nosso apoio à luta mundial pela libertação de Nelson
Mandela, achei que o título de Cidadão Emérito, um pouco inferior na escala de
valores, seria uma atribuição nossa, que se somaria ao movimento mundial em
prol da libertação de Mandela. Por isso, Srs. Vereadores, é com constrangimento
que venho à tribuna para dizer que estranhei muito que se entregasse ao líder
negro Nelson Mandela, em Brasília, um título de Cidadão de Porto Alegre que
esta Casa aprovou e lhe conferiu. Quando, ontem ainda, numa Questão de Ordem, o
Sr. Presidente da Casa disse que foi uma agressão ao Regimento Interno, porque
este título de cidadania foi apreciado no ano passado, quando Nelson Mandela já
se encontrava em liberdade, em condições de responder pessoalmente pelas
homenagens que lhe eram prestadas, eu fico, sinceramente, constrangido em
abordar esse assunto, porque não é da minha índole este tipo de comportamento.
Acho que esta Casa tem uma tradição muito rica, de respeito recíproco, para que
se venham a produzir episódios dessa natureza.
Acho justa a homenagem a Nelson Mandela.
Aprovei o segundo requerimento para não criar nenhum caso político de oposição,
ou de pretensa oposição, a essa homenagem. Espero que a História reponha as
coisas nos seus devidos lugares, e se hoje compareço a esta tribuna não é para
me declarar magoado, mas, sim, para não passar um atestado de bobo.
Por isso, quero deixar esse registro,
dizendo que as coisas serão repostas nos seus devidos lugares com o tempo. Acho
que o tempo é um excelente, um grande remédio para uma série de males,
inclusive para esse que se está a cometer nesta Casa. Vou continuar sendo o que
sou. Não vou modificar o meu comportamento. Vou tratar a todos com a mesma
consideração e respeito com que gostaria de ser retribuído. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE:
Liderança com o PL. Com a palavra o Ver. Wilson Santos.
O SR. WILSON SANTOS:
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu
acredito que as coisas estão tomando os seus devidos rumos. Pude
assistir, há pouco, na Tribuna Popular, o Presidente da UAMPA, Guarnieri,
realmente assumir a posição de entidade de defesa dos interesses populares.
Porque critiquei duramente a UAMPA, durante o processo de construção e
aplicação do “plus” tarifário, o silêncio e a conivência da UAMPA com o Governo
Municipal. Mas, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Nós
conseguimos participar de reuniões junto com a UAMPA; nós levamos subsídios,
através da Associação Municipal de Defesa dos Transportados em Ônibus, e fomos
conscientizando, e a própria UAMPA, na sua verdadeira função de defesa dos
interesses da coletividade, se acordou para o absurdo e hoje desfralda a
bandeira que nós já vínhamos desfraldando. Mesmo nós, que defendemos o
capitalismo, entendemos que o capitalismo tem um futuro descortinado, desde que
haja uma visão ética, moral, cristã, decente, de aplicação de lucros, e nós
combatíamos esse cartel de empresas, mancomunado com o Governo do Município, a
sugar, como sanguessuga, levando a anemia ao bolso do trabalhador. O
proletariado é a massa preponderante que usa o transporte coletivo de Porto
Alegre. Estava perpetrada, sobre esse trabalhador, uma sangria, uma verdadeira
atrocidade, por esse cartel de empresas e pelo Governo; uma verdadeira
imoralidade; uma verdadeira ilegalidade; uma vergonha. E, agora, nós estamos
prestes, porque está à tona, já está em cima dos processos do Ministério
Público que certamente oferecerá a denúncia, o Ministério Público certamente
pedirá a prisão ou o afastamento do Prefeito desta Cidade por todas as
comprovações que nós levamos à Justiça. Porque é um verdadeiro absurdo aqueles
que ficam insensíveis, que não examinam, não verem a barbaridade que se faz:
perverter a lei, governar à margem da lei. Aquele que se elege, especialmente
para um mandato executivo, leva consigo, ao assumir, toda a esperança de um
povo no sentido de que vá governar à luz da lei. Quando um governo se coloca à
margem da lei, torna-se um governo espúrio, um governo ilegítimo. Estamos
mostrando que mesmo depois de a justiça se pronunciar, mesmo depois de uma
sentença prolatada no mérito, em que o juiz Otávio Augusto de Freitas Barcelos
diz que jamais o Governo poderia fixar tarifa que não fosse, estritamente,
dentro da Lei nº 5.891, continua a tarifa sendo aplicada fora, à revelia da Lei
nº 5.891. Vejamos o art. 7º: “só pode ser aplicada majoração na tarifa quando
houver majoração de todos os componentes, acima de 25%”. Todos os aumentos
aplicados nunca foram além de 25%, sempre ficaram aquém dos 25%. Outro aspecto:
as despesas administrativas e as despesas gerais só podem ir até dois por cento
e está sendo pervertido o art. 4º, XV. Estamos provando ao Ministério Público,
que oferecerá a denúncia, pedindo o ressarcimento de três bilhões e trezentos
milhões que foram arrecadados com o “plus” para servir de enriquecimento
ilícito às empresas, patrocinado, infelizmente, pelo Governo de Porto Alegre.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE:
Passa-se ao período de
A palavra com o Ver. Vieira da Cunha.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, companheiros
da União de Associações dos Moradores de Porto Alegre – UAMPA –, que hoje se
utilizou desta tribuna para, mais uma vez, reiterar a posição da entidade a
respeito da política de transporte coletivo da Administração Municipal, muito
especialmente no que se refere à tarifa do transporte coletivo da Cidade.
Ouvindo as colocações do companheiro Guarnieri, Presidente da UAMPA, me
reportava à campanha eleitoral e me lembrava do discurso que fazia a dupla
Olívio Dutra e Tarso Genro, quando disputavam os votos dos eleitores
porto-alegrenses nas últimas eleições municipais. E me recordo das acusações,
Ver. Adroaldo, graves acusações que fazia esta dupla contra o então Prefeito
Alceu Collares. Chegava ao ponto, Ver. Wilson Santos, de afirmar que o Prefeito
Collares fazia o jogo dos empresários, e se apegavam no valor da tarifa para denunciar como uma tarifa cara, uma
tarifa absurda, e pregavam à população que, se eleito o PT para administrar
Porto Alegre, a população então teria uma tarifa barata. Eu lembro que alguns
debates chegavam a pregar a redução da tarifa dos transportes coletivos na
Cidade. Eu então me dei ao trabalho de pesquisar, no triênio que o PDT
administrou Porto Alegre, 1986, 1987, 1988, qual foi o índice de inflação
oficial, e por outro lado comparar este índice de inflação oficial ao índice de
reajuste autorizado pelo Prefeito Collares para tarifa de transporte coletivo.
O índice de inflação oficial, dependendo de qual parâmetro que se siga, ficam
em 7.800 o mais baixo, e 8.200 o mais alto, dependendo do índice que se tem
como referência para este cálculo, e o reajuste acumulado de tarifa autorizado
pelo ex-Prefeito Collares em Porto Alegre foi de exatamente 7.400%. Então, na
verdade, durante os três anos em que o Prefeito Collares administrou a Cidade,
houve uma redução real da tarifa de transporte coletivo da cidade de Porto
Alegre. Isto pode ser comprovado, isto é facilmente comprovado. Eu cansei de
fazer esta comparação, até porque a diferença entre a inflação acumulada
durante o Governo Olívio Dutra e os reajustes autorizados pela tarifa de
transporte coletivo é astronômica, a favor, obviamente, dos aumentos
tarifários. O índice acumulado de reajuste da tarifa de transporte coletivo da
Cidade é infinitamente superior ao índice acumulado de inflação verificado no
mesmo período. Eu não me canso de afirmar, até para refrescar a memória dos
porto-alegrenses mais desavisados, de que, quando o Olívio e Tarso assumiram, a
tarifa era de doze centavos, doze centavos de cruzeiros em Porto Alegre. E hoje
é 110 cruzeiros. A diferença de cruzados, é verdade, e depois cruzeiros. A
diferença, Ver. Adroaldo, entre o discursos de V. Exas e a prática
nessa questão tarifária é impressionante, é de deixar o maior cara-de-pau da
política envergonhado, vermelho, roxo, tamanha a diferença entre o discurso e a
prática. E olha que começou bem. Eu era Líder da Bancada do PDT, de oposição, e
subi a esta mesma tribuna para me solidarizar com o Prefeito quando interveio
no sistema de transporte, com a ameaça dos empresários de fazer locaute em
Porto Alegre. Eu subi nesta tribuna e me solidarizei no primeiro momento com a
Administração, porque teve a coragem, aí sim teve a coragem de fazer a
intervenção. Agora, os rumos da intervenção foram catastróficos, demonstraram
uma incompetência na gerência das empresas de transporte coletivo, tanto é que
capitularam e devolveram as empresas. Eu tenho um convencimento, eu acho que a
origem de tudo isso, Ver. Wilson Santos, V. Exª, que tem denunciado firmemente,
competentemente, esta equivocada política do Prefeito Olívio Dutra nesta área,
de que a origem do famigerado “plus”, a origem agora da Ordem de Serviço do 1º
de abril, esta Ordem de Serviço que retirou 481 ônibus, os mais velhos,
obviamente, da planilha de custos e transporte da Cidade, isso tudo tem origem
na capitulação que deu fim ao processo de intervenção aqui em Porto Alegre,
porque fizeram um acordo curiosamente intermediado por lideranças empresariais
conhecidas no Estado, e este acordo até hoje não chegou ao conhecimento público,
não foi, para usar uma expressão muito em voga, transparente, e algumas
cláusulas deste acordo eu agora começo a compreender, apesar de ter certeza que
elas nunca foram escritas. Aí nós vamos entender o “plus”, aí é que nós vamos
entender como é que o Prefeito, dia 1º de abril, não é por acaso, Dia dos
Bobos, publica uma portaria mandando retirar de circulação os ônibus com mais
de dez anos de vida útil e, no mesmo dia, veja a serenidade, veja como as
coisas caminharam rápido, no mesmo dia, 1º de abril, o Sr. Prefeito fez uma
ordem de serviço, e o Sr. Secretário de Transportes assinou uma portaria
concedendo o prazo de seis meses para que esses veículos fossem efetivamente
retirados da frota, prorrogado por mais seis, para que saiam da frota, mas imediatamente
saíram da questão do cálculo da tarifa. Ora, não é preciso ser nenhum expert na questão do transporte coletivo
da Cidade para saber que foi uma manobra, mais uma manobra para tangenciar a
lei da metodologia de cálculo, para fazer com que mais uma vez a população
fosse vítima de mais um aumento à margem da legislação que trata da matéria
vigente e desrespeitada no Município de Porto Alegre.
O Sr. Wilson Santos: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) O aparte que pedi, ele já deixou de ter efeito, até porque queria
reafirmar justamente este aspecto, é da portaria que deu prazo de seis meses,
prorrogável por mais seis meses, o que se tornou uma vergonha, esse documento
foi apenas para permitir manipular a tarifa e tornar a tarifa de Porto Alegre a
segunda mais cara do Brasil, e conseqüentemente sangrando o bolso do
trabalhador, isto aí está com os Promotores de Justiça, Ministério Público, e
inclusive a denúncia e as providências que serão feitas pelo Ministério Público
serão calcadas em todos estes aspectos de irregularidades verdadeiramente
vergonhosas.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Agradeço a V. Exª pelo aparte e quero finalizar
parabenizando inclusive a forma como V. Exª encaminhou este assunto, eu sou
suspeito para falar por razões óbvias, porque pertenço à Instituição. Mas V.
Exª colocou nas mãos do Ministério Público e fez muito bem, porque tenho
absoluta convicção, pois está nas mãos de uma Instituição independente, e
saberá levar esta questão às últimas conseqüências, com o único intuito de
fazer com que a lei seja respeitada. E a legislação, a famosa lei da
metodologia de cálculo vem sendo pisada e pisoteada reiteradamente pela atual
Administração na ânsia de cumprir o famigerado acordo que deu fim ao processo
de intervenção. E aí quem tem sofrido todos nós sabemos, a população usuária do
transporte coletivo, que a UAMPA soube bem representar desta tribuna. E não
haverá um dia por mês de tarifa gratuita que iluda a consciência popular para a
agressão e violência que vem sendo submetida na questão tarifária, em Porto
Alegre. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito é o Ver. Nereu
D’Avila, que cede seu tempo ao Ver. Dilamar Machado.
O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quando
nós nos reunimos nesta Casa para elaborar, ao final de 1989, início de 1990, a
Lei Orgânica de Porto Alegre, este livrinho que contém o pensamento, a idéia,
posição política e a ideologia da maioria desta Casa, inserimos na Lei
Orgânica, disposições finais, no art. 17, que não foi fruto do esforço de uma
Bancada, fruto de toda a Casa. Esta emenda, este artigo, teve a aprovação de
todos os Vereadores que integram a Câmara Municipal, principalmente os
Vereadores da Bancada do PT, e diz o seguinte:
Art. 17 (Lê.) “Os Centros Integrados de Educação Municipal – CIEMs –
desenvolverão, a partir da data da promulgação da Lei Orgânica, atividades em
turno integral, atendendo à filosofia política e pedagógica voltada às classes
populares.”
Vou reler para os companheiros do PT o artigo que construímos juntos na Lei
Orgânica: “Os CIEMs desenvolverão, a partir da data de promulgação da Lei
Orgânica, atividades em turno integral, atendendo à filosofia política e
pedagógica voltada às classes populares”.
Vou iniciar dizendo que o PT está cometendo um crime de omissão de socorro às classes populares e aos pobres, também na área da educação. Preocupado com o cumprimento da Lei Orgânica e para não ouvir respostas evasivas, eu requeri ao Prefeito Olívio Dutra, através de um Pedido de Informações, nº 91/91, que ele informasse a este Vereador se o Município estava cumprindo a Lei Orgânica e se os CIEMs estavam funcionando em turno integral, conforme o Projeto original, conforme a sua construção, conforme a filosofia pedagógica e conforme o que hoje existe, inclusive a nível nacional. O próprio Governo Central, aplicando a idéia que nasceu da cabeça de Darcy Ribeiro, que foi materializada pelo trabalho político de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, criando CIEPs, conseqüência do Prefeito Alceu Collares em Porto Alegre. E nós contávamos fosse dada a seqüência pela cabeça do Prefeito Olívio Dutra e do Partido dos Trabalhadores. Resposta do Prefeito Olívio Dutra a esse Pedido de Informação: “Atualmente, todas as escolas municipais funcionam em dois turnos”. Essa é a resposta sucinta, Ver. Alvarenga, Ver. Adroaldo Corrêa. O Prefeito responde e assina embaixo como Cláudio Cabral. Todas as escolas municipais estão funcionando em dois turnos. Nenhum CIEM está funcionando em turno integral. Mas o Prefeito não apenas responde que está descumprindo a Lei Orgânica, que está descumprindo um acordo político feito por sua Bancada, nesta Casa, na elaboração da Lei Orgânica, ele também argumenta, o que para mim é uma surpresa. “Aponto os argumentos que levaram a Administração Popular a transformar os CIEMs em escolas de dois turnos e que dizem respeito à totalidade dessas escolas. Ao mesmo tempo em que descrevo nos gráficos e na análise seus dados, especificidade de cada caso”. Diz o Prefeito Olívio Dutra: “O grande número de crianças que se encontravam fora das escolas em Porto Alegre, enquanto uma parcela restrita permanecia na escola o dia inteiro”. Em primeiro lugar, isso não é verdade, para não dizer que é uma mentira. Em segundo lugar, continuam milhares de crianças fora da sala de aula; e em terceiro lugar, nenhum CIEM de Porto Alegre ocupa, atualmente, em dois turnos, a capacidade que tem para o turno integral. Então, esse argumento é inválido e é frágil. Vejam o quadro que o Sr. Prefeito Olívio Dutra me manda, Ver. Nereu, e que assina embaixo. Matrícula nos CIEMs em 1989, foi o ano que o Prefeito assumiu, no CIEM Larry Alves, na Restinga, em 1989, tinham 688 alunos matriculados, a capacidade do CIEM é para mais de mil alunos; em 1990 tinha 1.004. Só que em 1991 o Prefeito não mandou. Não sei porque ele não mandou as matrículas de 1991. Mandou de 1989 para 1990. Do Pessoa de Brum, na Restinga, 419 em 1989, 676 em 1990, menos que a capacidade da escola. No Ludovino Fanton, também na Restinga, 244 em 1989, 807 em 1990. É que as escolas estavam recém sendo implantadas, inauguradas. Martim Aranha, na Cruzeiro do Sul, 354 para 965, e no Sarandi o grande CIEM, o maior de todos, João Goulart, tem apenas 958 alunos matriculados, quando tem capacidade para bem mais.
O Sr. Adroaldo Corrêa: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Só para poder acompanhar o seu raciocínio. Ver. Dilamar Machado, de
que data é o seu Pedido de Informações e qual a data da resposta.
O SR. DILAMAR MACHADO: É deste ano de 1991, a resposta do
Prefeito está datada de 16 de julho, Vereador, eu acredito que tenha
encaminhado em meados de junho, dentro do prazo de trinta dias. Bem, agora vem
os demais argumentos do Prefeito. O primeiro é inválido, e o segundo não
convence, porque as escolas não estão sequer utilizando a capacidade que tem em
dois turnos, que poderiam usar para o turno integral. O outro argumento, grande
custo das obras de manutenção do projeto, cá para nós, sem comentários.
Segundo, as escolas de turno integral funcionavam apenas até a segunda série,
restringindo o atendimento às séries subseqüentes. Argumento infantil,
argumento burro, argumento sem fundamento, porque as escolas estavam iniciando
grupos novos de atendimento aos alunos, se estavam no segundo ano de atividade,
estavam matriculando no segundo e assim conseqüente. Outro argumento, esse aqui
é fantástico, Ver. Adroaldo. Eu até pediria a V. Exª, como uma das cabeças
pensantes do PT, que examinasse quem é o assessor do Olívio Dutra que redige
isto para o Prefeito assinar. Olhem o argumento, o paralelismo com relação às
demais escolas da rede municipal. Os CIEMs eram privilegiados em termos de
recursos humanos, obras, reformas e até quanto à clientela. Mas vejam que
argumento estúpido! Não há o que dizer com relação ao Pedido de Informações! E
agora, então, a paulada final: os índices de aprovação que se apresentaram no
CIEMs eram inferiores às escolas de dois turnos. Mas isto é uma frase apenas. É
uma frase que o Prefeito coloca, não há nenhuma comprovação técnica nem
científica. E agora lerei a parte final, que é um primor: (Lê.) “É nessa escola
que se possibilita o acesso e sucesso das crianças às classes populares, que
criamos espaços culturais recreativos, com atividades alternativas, oferecidas
no turno oposto ao regular.” É livre escolha. As crianças vão lá e escolhem.
Elas podem ter o seu universo na área da arte, línguas, literatura, cinema,
saúde, meio ambiente, artesanato, turismo, ciências. Eu estou encantado. As
crianças pobres de Porto Alegre devem esta ficando com uma cultura de dar
inveja às crianças da Suíça. E, para finalizar, essas escolas, contrário do
CIEMs, segundo o Prefeito, não se constituem enquanto atividades compensatórias
ou assistencialistas. Esta é a teoria do Prof. José Valdir, e que o CIEM era
assistencialista porque dava comida para as crianças. (Lê.) “Oportunismo,
contato com diversos grupos e o conhecimento de sua Cidade, na perspectiva de
construção da cidadania.” E aí o Prefeito dá o exemplo final. Exemplo: turismo
escolar. Ao longo da minha vida, tenho colecionado festivais de asneiras,
bestialógicos, e vou guardar este no meu festival. Efetivamente, como resposta
ao Pedido de Informações, eu considero uma agressão do Prefeito Olívio Dutra à
minha inteligência, à minha capacidade, à minha boa vontade com a Administração
Municipal, porque isto aqui não responde nada. O que ele responde é o seguinte:
é idéia do Brizola, é obra do Collares, vamos fazer que nem com o Ginásio
Tesourinha, com o Projeto da Praia do Guaíba, com a Usina do Gasômetro, vamos
colocar o pé em cima. Só que depois alguém vai retirar esse pé e vai continuar
essas obras como benefício às crianças pobres de Porto Alegre, já que o PT se
mostra desidratado de solidariedade com as classes pobres e está, definitivamente,
consumando um crime de socorro à classe pobre de Porto Alegre, se voltando à
classe média, buscando apenas um voto simples, fácil, utilizando-se de recursos
que poderiam usar nas escolas de turno integral, para fazer propaganda de obras
que não fazem, especialmente na área de esgoto cloacal. As vilas pobres de
Porto Alegre que o digam. Obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Vamos suspender os trabalhos para
realizarmos uma reunião da Comissão Conjunta.
(Suspendem-se
os trabalhos às 15h05min.)
O SR. PRESIDENTE (às 15h18min): Voltamos ao período de Comunicações,
primeiro Vereador inscrito é o Ver. João Motta.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
certamente eu não vou fazer a manifestação que eu gostaria de fazer, para responder
as críticas feitas à Administração Popular pelos Vereadores Vieira da Cunha e
pelo Ver. Dilamar Machado. Mas eu gostaria de lembrar aos Vereadores que a
Casa, os Vereadores Vieira da Cunha e Ver. Dilamar Machado, partidariamente
falando, anda ultimamente meio enfraquecida, e como diria o grande líder Leonel
Brizola, num discurso tudo é possível, de fato tudo é possível. Basta ver a
recente aproximação pública e notória do Partido de V. Exª, PDT,
administrativamente, aproximação administrativa segundo o Ver. Vieira da Cunha,
com o inimigo número um do povo brasileiro hoje, que se chama Collor de Mello,
o grande papa do neoliberalismo no Brasil, atualmente. Aquele que quer repensar
as relações brasileiras no plano internacional abrindo, a partir do Brasil, uma
nova etapa de submissão aos interesses monopolistas, imperialistas dos Estados
Unidos. Portanto, lamentavelmente, essa aproximação, elas devem ser relembradas
neste momento, visto que a duras penas e com muitas dificuldades a oposição
democrática vem tentando afirmar uma alternativa política identificada com os
chamados interesses populares ao longo desses últimos anos que passaram. É bom
relembrar isto pela época das eleições diretas, antes disso pela campanha da
anistia e pela conquista do direito à eleição direta de Presidência da
República. Portanto, esse símbolo que hoje se espalha nas repartições públicas
do Rio Grande do Sul, expressos nas duas fotos do Presidente Collor de Mello,
ao lado do Governador do Estado, provavelmente agora vai ter mais a foto do
atual Governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Não é um símbolo que possa
ser apanhado como uma mera coincidência, eu tenho uma visão, o nosso Partido
tem uma visão que, de fato, trata-se de uma aproximação política e não
meramente administrativa. Isto porque é verdade por um lado, Ver. Vieira da
Cunha, que o projeto político do PDT, calcado na sucessão presidencial e na
grande figura inquestionável do seu líder máximo, Governador do Rio, Leonel
Brizola, passa pelo fortalecimento dos atuais governos dos Estados,
praticamente, do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Portanto, atitudes como
estas, que significam a renegociação das dívidas desses Estados com a União, em
parte se constituem em acordos que visam à sucessão presidencial.
Imaginem que o PDT, que tem esses dois governos de Estado,
administrativamente fizer um mau governo, isso significará um desgaste
irreversível para uma futura candidatura do PDT à sucessão presidencial. Mas,
segundo o pragmatismo político do PDT, tudo é válido para salvar esses dois
governos, porque o que está em jogo é exatamente um segundo momento desse
processo, que seria a sucessão do Presidente da República. Assim, se nesse
processo com o Governador Alceu Collares muitas vezes podemos trabalhar com a idéia
de que alguns dados não se fazem presentes, nós podemos dizer que, até agora, a
ausência de deputados do PDT no
Plenário da Câmara Federal, quando da votação da MP 296, não ficou clara, nem
foi explicada suficientemente. Inclusive internamente se sabe que existem
divergências acerca daquela posição dos oito Deputados Federais do PDT que não
compareceram à votação da Medida Provisória.
Por isso temos que nos preocupar com essas verbas liberadas para a
construção de centros integrados. Porque isso, de fato, significa uma
aproximação do neoliberalismo econômico com o populismo, de outro lado.
Portanto, neste período, onde se sabe que a grande tônica no plano mundial
é exatamente o fim da chamada bipolarização dos países ditos ricos de um lado e
dos países chamados segundo-mundistas de outro, parece-nos que não existe
qualquer possibilidade de se viabilizar isso, sem que isso seja feito
fundamentalmente com as nossas próprias forças, portanto é lamentável que o PDT
faça esta aproximação com o neoliberalismo, no Brasil, exatamente neste momento
da história mundial, onde nós estamos tentando acumular forças para conseguir
derrotar no Congresso este estilo imperial e autoritário deste Presidente da
República. Portanto, eu gostaria de registrar isso fazendo esse comparativo
entre o que disse com muita inteligência o Governador Leonel Brizola, de que no
discurso tudo é possível. Agora, acho importante nós fazermos aqui também esta
reflexão política sobre esse cenário que se avizinha e que se antecipa à
próxima sucessão presidencial, porque não tem nenhuma dúvida, se colocam hoje
como sendo talvez o fato mais importante nestes últimos dez anos no cenário
político brasileiro. Portanto, está em jogo desde já a possibilidade deste País
avançar esse processo muito tênue e limitado de democratização, ou este País
vai ter um avanço neste retrocesso, que já é visível. E aí tem dados, Ver.
Vieira da Cunha, que são inquestionáveis, hoje se estima que apenas dez por
cento da população brasileira compõe o chamado mercado sob o ponto de vista
econômico. Isso significa que os índices de miséria e exploração atingiram
níveis violentíssimos na sociedade brasileira. E há uma responsabilidade por
tudo isso, nós sabemos que existe. Portanto, qualquer fôlego político a esse
projeto, a essa política fisiológica desse Governo que não esconde como é que
consegue maioria no Congresso Nacional, tem sido através da prática
“sarneyzada” da troca de favores, portanto, quando nós fortalecermos isso, nós
na verdade estaremos reforçando esse modelo de dominação histórica e social
constituído sob o signo da escravidão, do latifúndio e do autoritarismo. Isso
perpassa toda a história política brasileira. Portanto, lamentavelmente, nos
anos 90, nós que estamos querendo apresentar uma alternativa moderna e
democrática para este País, que passa pela reforma do Estado, que passa por uma
nova articulação das forças políticas, para viabilizar um novo conceito de
governabilidade no plano nacional, nós tenhamos esse retrocesso à direita na
posição desse partido político que, sem dúvida nenhuma, poderia e poderá se
constituir como Partido importantíssimo na construção dessa alternativa.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Ver. João Motta, tanto no discurso todo o raciocínio é possível que
V. Exª conseguiu raciocinar logicamente, mas chegou a conclusões equivocadas.
V. Exª tão bem quanto eu que essa aproximação entre o Governador Brizola e o
Presidente da República é uma aproximação entre um Governador de Estado e um
Presidente da República, os dois eleitos legitimamente pelo voto da população.
V. Exª sabe também que o Governador Brizola e o PDT, como partido político,
jamais renunciaram à sua posição ideológica clara, definida, frontalmente
contrária às teses neoliberais defendidas pelo Presidente da República.
Vou citar duas diferenças fundamentais que nada têm a ver com as conclusões
de V. Exª: primeiro, a questão da política econômica. O Governador Brizola não
refez o discurso, não revisou o discurso, pelo contrário, reprisou a crítica à
política recessiva, equivocada, que não tocou nas causas fundamentais da
inflação que – segundo tem repetido reiteradamente o Governador Brizola – são
as perdas internacionais. Segundo, a questão da privatização das estatais, onde
o PDT tem, reiteradamente, denunciado o processo de privatização como sendo um
processo entreguista da economia nacional.
Quanto à posição do PDT no Congresso Nacional, V. Exª sabe que o PDT e o PT
sempre votam juntos nas questões fundamentais, de fundo, que digam respeito às
questões econômicas, políticas e sociais para o País.
V. Exª, no afã de criticar o nosso Partido, comete injustiças. Usou os 10
minutos regimentais e, infelizmente, não tocou – V. Exª, certamente, se
utilizará do tempo do Ver. Giovani Gregol –, não veio à tribuna para defender a
Administração Popular nas questões importantes para a cidade de Porto Alegre,
como o transporte coletivo, a questão educacional, levantada aqui pelo Ver.
Dilamar Machado. Essas questões ficaram sem respostas.
O SR. JOÃO MOTTA: Para concluir, quero dizer que não é bem
assim que as Bancadas do PT e PDT, no Congresso, estejam alinhadas sempre. E
citei um exemplo concreto: numa votação decisiva no Congresso, que poderia
estabelecer uma mudança na correlação interna do Congresso, naquele momento,
que seria uma alternativa para o Governo assumir, ou não; diante do quadro de
crise política, nós fomos derrotados. Esses oito votos foram decisivos.
Portanto, é diferente. O Prefeito Olívio Dutra tem viajado freqüentemente a
Brasília para negociar a liberação de verbas, etc., mas a atitude e a posição
política do PT, nacionalmente, é incomparavelmente mais transparente no cenário
político nacional do que a do PDT. Portanto, é contra esse pragmatismo do PDT,
neste momento, que faz e tenta negar que faz uma aproximação política, que nós
não podemos concordar. Portanto, fica aqui registrada a minha crítica a essa
posição, porque de fato acho que isso é um retrocesso. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. José Valdir, por
cessão de tempo do Ver. Giovani Gregol.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, de
fato, nós, do Partido dos Trabalhadores, temos divergências na questão
educacional com o PDT e algumas convergências também. A convergência que nós
temos é em considerar a questão do turno integral como importante, inclusive
temos defendido o turno integral antes de sermos Governo em diversos
congressos. Até aí nós concordamos. Com o que nós não concordamos é com uma
determinada proposta de escola que pretende vender a ilusão às classes
populares de ser aquele remédio que cura desde unha encravada até Aids. E o PDT
fica falando em CIEM e em turno integral como o modelo de escola que vai
resolver todos os problemas, inclusive o problema da miséria, que se reproduz
com uma velocidade fantástica num país de terceiro mundo. Aí começam as nossas
divergências. Nós temos uma proposta para a educação que afirma a necessidade
de democratizar a escola e democratizar em vários sentidos: democratizar o
acesso à escola, garantir o acesso universal à escola a todos, numa escola de
boa qualidade, e garantir a democratização do conteúdo e a democratização da
gestão da escola. Esta é a nossa proposta, por isso é que nós achamos que o
turno integral, embora seja um objetivo a ser atingido, nas atuais
circunstâncias do Brasil é impossível de ser implantado como uma solução para o
problema da escola pública, que está em petição de miséria. Desafio o
Governador Collares a melhorar as condições das escolas do Estado que estão com
problemas elementares, com prédios caindo em cima das cabeças de professores e
de alunos. Entendemos que a melhoria da qualidade das escolas tem que ser uma
preocupação global, e não, como quer o PDT, criar algumas escolas-modelo, algumas
vitrines educacionais, e pretender, com isso, estar criando uma revolução em
matéria de educação. Em segundo lugar, a questão da democratização da escola
que, para nós, é fundamental. Uma escola democrática, em primeiro lugar, se
constrói dando salários condignos aos profissionais e avançando nos mecanismos
de controle popular, e não fazendo como o Governador Collares, que ao mesmo
tempo que anuncia uma revolução na educação, na prática está fazendo um
retrocesso, como o que hoje está estampado no Correio do Povo, onde o
Governador diz o seguinte: “não posso ter um adversário dirigindo as escolas,
tem que ser alguém afinado com o Governo para cumprir o nosso programa”.
Anuncia que vai entrar na Justiça contra a eleição de diretores, o que foi uma
conquista, Ver. Vieira da Cunha, não só de professores, de profissionais da
educação, mas foi uma conquista popular. Mais tarde, numa reunião que teve com
o CPERS – que não é mais dirigido pelo PT, pelo contrário, é dirigido por
alguém das hostes partidárias do Governador do PDT e que inclusive foi
candidato, que é a Profª Maria Augusta Feldmann, que vai ser nossa debatedora
na próxima sexta-feira, no seminário da LDB –, numa verdadeira afronta àquele
órgão, anuncia que vai deixar de recolher em folha o desconto que os
professores fazem e para o qual o CPERS paga uma taxa. Aí a Profª Maria Augusta
Feldmann diz que nem na época da ditadura os governantes fizeram isto, o
Governante esqueceu o que é democracia, quem está dizendo isto não é ninguém do
PT, ninguém da esquerda, é alguém do próprio PDT, do próprio partido do
Governador, Governador que anuncia uma revolução na educação e que é incapaz de
conviver com a eleição de diretores. Se nós pensarmos um pouquinho, Ver.
Dilamar, nós temos é mais é que ampliar essa democracia dentro das escolas, e
não retroceder, como quer o Governador. V. Exª quer saber do Prefeito Olívio
Dutra, Ver. Dilamar Machado? Tenho até que admirar a ousadia ou ingenuidade
política do Ver. Dilamar Machado, que vem a esta tribuna fazer acusações ao PT,
como se não tivesse nada, nenhum problema, quando na verdade na área de
educação no Estado nós vivemos o maior caos, o tratamento que o Governador
Collares está dando à educação no Estado, está dando aos professores, está
dando à entidade de classe do magistério, é um tratamento muito pior do que
todos os Governos anteriores. O Governador Collares está fazendo os professores
ficarem com saudades do Amaral de Souza, do Jair Soares e do Pedro Simon. Isto
quem está dizendo não sou eu, há pouco li afirmações da Profª Maria Augusta
Feldmann que faz justiça, dizendo que o que o Governador Collares está
propondo, acabar com a eleição dos diretores, de não fazer mais o desconto em
folha, nem no tempo da ditadura se ousou chegar a tal nível. E o Ver. Dilamar
Machado vem aqui se preocupar com uma afirmação, e ele dá uma interpretação
peculiar do art. 17, que ele, na sua liberalidade, inventa, quando é possível,
muitas interpretações. Me lembro que este artigo foi fruto de uma negociação, e
a redação das coisas que são negociadas é suficientemente ampla para
possibilitar mais de uma interpretação. E não a interpretação que o PDT queria.
O que o PDT quer é que a nossa proposta, que é muito mais global, mais ampla
que a do PDT, que ela suma, que fiquemos na Prefeitura de Porto Alegre reféns
da política do PDT para a área da educação, que está colocada nos jornais. E
que é um retrocesso naquilo que para nós é fundamental, a democracia dentro das
escolas, querendo acabar com a eleição para diretores, querendo enfraquecer a
entidade de classe.
Mas, desde quando poderemos ficar reféns de uma política do PDT, que é uma
política de retrocesso na área da educação?
Jamais, Ver. Dilamar Machado. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. VIEIRA DA CUNHA
(Questão de Ordem): Quero
apenas me dirigir à Mesa para deixar registrado o meu agradecimento pelo aparte
que foi concedido pelo orador que deixou a tribuna.
O SR. JOSÉ VALDIR (Questão
de Ordem): Sr.
Presidente, quero esclarecer que a culpa de eu não ter dado o aparte foi do
Ver. Dilamar Machado, que perturbou o meu discurso.
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PDS, Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, dei
entrada dia 1° com um Requerimento, pois quero saber como o ilustre Prefeito
desta Cidade colocou a mão no bolso dos funcionários e tirou o dinheiro dos
funcionários. Eu, não sendo um jurista, sou obrigado, de vez em quando, a me
assessorar com os que são. No dia 30 de junho, os municipários tinham
assegurada, conquistada, a bimestralidade, e o Prefeito da Administração
Popular, que se identificou sempre com aqueles que queriam mais salários, e ele
era um daqueles que estava sempre à frente. E até, como Prefeito, ele foi
disputar salários com os bancários, panfletar na porta do banco. E parece-me
uma incoerência. Ontem, eu fui chamado até de surfista, porque eu quis
aproveitar uma onda. Não, eu levantei a onda antes dos demais.
Mas eu sou um indivíduo que agora quer ir na onda. Eu quero, já que estão
falando em Prefeito aqui, Governador lá, eu quero a verdade aqui. Eu quero e
pedi, Sr. Presidente, que a Comissão de Justiça e a Auditoria da Casa digam-me
como o Prefeito colocou a mão no bolso dos servidores e tirou o dinheiro lá de
dentro. Eu quero a resposta com urgência. Assim como eu quero, Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, que o art. 125 da Lei Orgânica, já que ontem todo mundo aqui
me disse que eu era legalista, todo mundo era orgânico. Eu quero que o art. 125
da Lei Orgânica consiga explicar toda essa ampla publicidade que está sendo
feita, como se o esgoto cloacal continuasse sendo implantado nesta Cidade. O
que não é verdade! Aí se faz uma propaganda, um operário carregando um tubo
furadinho, para que haja a evasão do esgoto, etc. Mas só na televisão, porque
não está acontecendo na Cidade. Eu também quero que o art. 125 seja analisado e
que ele informe a esta Casa, não com a Rádio Popular, que ele gasta sete, oito
milhões por mês. Agora, publicidade colocada em horário nobre na televisão e
por longo tempo custa muito dinheiro, até porque, falar em muito dinheiro, a
Prefeitura está com muito. Segunda-feira passada estava disputando no mercado
quem é que pagava mais pelas CDBs para aplicar oitocentos milhões de cruzeiros,
e, na quarta-feira, estava sobrando dinheiro para pagar o funcionalismo, claro,
surrupiado um pouco do funcionalismo, mas, talvez, os oitocentos milhões fossem
parte de lá. Mas no meio da semana já teve outra reunião, aí eu não sei quanto
era, mas chamaram os bancos lá na Prefeitura mesmo, para ver quanto é que iam
aplicar e ver quem dava mais. Pois é, a Prefeitura está com tanto dinheiro e
vive chorando as misérias, oitocentos milhões de cruzeiros na segunda-feira
passada na rede bancária em CDBs, agora, na quarta-feira, eu não sei quanto
foi, mas foi bastante, de novo, porque, se chamaram os gerentes de bancos lá
dentro da Prefeitura, o negócio devia ser muito bom. Então, eu quero que a
Comissão de Finanças, também, é um terceiro pedido que fiz, diga dos recursos
que têm sido movimentados, dos relatórios, dos balancetes que a Prefeitura não
manda, mas sabe que gastou mais de setenta e poucos por cento com o
funcionalismo e, então, surrupiou 40% dos direitos adquiridos. Fez uma lei,
retroagiu, para prejudicar, porque, no dia 30 de junho, os servidores
municipais tinham direito adquirido, tinham dinheiro no bolso e, aí, no dia 10
de julho, o Prefeito faz uma lei que bota a mão no bolso dos rapazes
mal-aquinhoados a quem ele pressionou violentamente naquele bolso para fazer o
que fez com aquela lei que praticamente obrigou esta Casa a votar. E também
quero saber se uma Lei Ordinária, muito ordinária até, pode modificar uma Lei
Complementar. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PDT, Ver. Nereu D’Avila.
O SR. NEREU D’AVILA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu
estive alguns dias afastado da Casa por uma infecção pulmonar e por isso fiquei
em absoluto repouso, e procurava me distrair lendo e às vezes ouvindo alguns
programas. E por isso eu escutei uma entrevista por tudo lamentável do Ver.
João Dib. Só que ele é reincidente específico nessa questão. Eu já havia
detectado, numa ocasião, uma entrevista de S. Exª à Rádio Pampa, mas, agora,
esta que ele deu à Rádio Gaúcha, ao Lasier Martins, foi para desmoralizar esta
Casa. S. Exª, mordido pela mosca azul da Prefeitura, a qualquer custo quer
isso. Qualquer pessoa tem o direito de se autopromover, pessoas até sem
talento, mas isso não se pode fazer à custa do Parlamento, depois de anos e
anos em que esteve amordaçada a Nação, lamentavelmente estamos num período onde
os exageros são o lugar-comum. Exageros, às vezes, até da imprensa. Exemplo da
Revista Veja, no setor Rio Grande do Sul, em relação à TVE. Eu nunca vi um tal
amontoado de aleivosias e inverdades, e isto ficará provado, tenho certeza, ao
longo da CPI que o próprio Governador Collares pediu. E aí vem o Ver. Dib, que
já foi Prefeito nesta Cidade e tem a responsabilidade pública, dizendo num
canhão da mídia, com 100 kw, que a Câmara tem funcionários demais, não
precisava Sessão todo dia, que os Vereadores passam as tardes discutindo
besteiras. Se não fosse o equilíbrio do entrevistador Lasier Martins, que, se
açulasse o Ver. Dib, ele teria dito mais bobagens. Porque não é questão de
corporativismo, não, é questão quanto à liberdade do Parlamento. O Vereador não
tem o direito de, em busca da Prefeitura, desmoralizar os parlamentos, achando
que tem Vereadores demais, funcionários demais. Só ele é o bom, só ele presta,
porque não tem assessor, e sempre com os olhos voltados para o passado. Quem
gosta de passado é museu, Vereador. Só voltado para o passado, que 21 era bom,
era demais, que esta Casa não precisa se reunir todo dia, que falam só
besteira, à exceção dos Projetos de V. Exª.
Aí, o Lasier perguntou qual era o Projeto, e ele disse que era o do IPTU.
Como se só o do IPTU fosse importante nesta Casa! Como se não tivesse a toda
hora e a toda semana se decidindo aqui o destino dos munícipes e mais de meia
centena de projetos importantes, tanto quanto o do IPTU, mas ele só cita o
dele, como outra vez, na Rádio Pampa, que ele só citou o dele, ele que cite os
dele, de quem quiser, mas não às custas da liberdade individual dos cidadãos,
que é a liberdade dos parlamentos. V. Exª que apareça nas costas de outro, mas
não deste Parlamento, que é um dos mais respeitáveis do Brasil. V. Exª tem em
mim um adversário feroz, porque não vou admitir que se fechem novamente os
parlamentos, o que a direita, da qual ele faz parte, obtusa, quer. Fechem os
parlamentos, coloque-se um ditador, alguém como ele, sem voto na Prefeitura,
porque, pelo voto, jamais chegará...
O Sr. João Dib: Não é bom ser meu adversário...
O SR. NEREU D’AVILA: Não tenho medo de V. Exª, V. Exª é um
lobo na pele de um cordeiro. Vou ser adversário de V. Exª sim, vou sim, porque
sou a favor dos parlamentos, contra a demagogia, sou a favor do voto...
O Sr. João Dib: V. Exª ganhou muito, só chegou à
suplência, eu cheguei cinco vezes...
O SR. NEREU D’AVILA: Não importa, V. Exª é o talento desta
Cidade, é o melhor dos 33 Vereadores, queria ser Presidente, só que não foi e
não será jamais, pelo menos com o meu voto. E não admito molecagem em cima
deste Parlamento, ou de qualquer liberdade que feche os parlamentos. E creio
que o povo de Porto Alegre não tolerará este tipo de busca à custa de todos,
como se isto aqui fosse um bando de desocupados, que não fazem nada, como se os
funcionários não fizessem nada. E o Ver. Vieira da Cunha, três horas depois,
honrou este Parlamento no seu programa de televisão, dizendo, na frente de um
outro cidadão, que não comunga com as nossas idéias, dizendo claramente que
votaria contra o Projeto do Ver. Dib, porque ele não o considera um talento tão
grande assim, que ele precisa de assessores, e dizendo que não eram oito, V.
Exª mentiu...
(Tumulto.)
O SR. PRESIDENTE: Suspendemos os trabalhos por 5 minutos.
(Suspendem-se
os trabalhos às 15h54min.)
O SR. PRESIDENTE (às 15h56min): A Mesa, de
conformidade com o art. 84, esclarece que a Sessão poderá ser suspensa ou
levantada para manter a ordem (inc. I). Portanto, a Presidência agiu
corretamente minutos atrás.
Com a palavra o Ver. Edi Morelli, que cede seu tempo ao Ver. Ervino Besson.
O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ontem
correu, em 1ª Sessão de Pauta, um Projeto de minha autoria que regulamenta a
abertura de postos de gasolina na cidade de Porto Alegre. Não pude falar ontem,
dado que são apenas três Vereadores que podem falar. Mas faço-o hoje, a partir
deste momento.
O que me levou à apresentação desse Projeto foi aquele posto na chamada
“curva da morte”, ou seja, a curva da Cavalhada, onde já ocorreram inúmeros
acidentes.
Concedo o aparte ao Ver. Omar Ferri, que é um grande jurista desta Cidade.
V. Exª já falou sobre o Projeto, o que me gratificou muito.
O Sr. Omar Ferri: Saí da tribuna, fui ao meu Gabinete,
expedi um telex ao Sr. Prefeito Municipal e, concomitantemente, apresentei um
Pedido de Informações, a fim de que a Casa fique sabendo em que condições está
sendo construído ou reconstruído um posto de gasolina numa praça, veja bem,
numa praça e a mais ou menos cinqüenta metros de um grupo escolar. E, à “boca
pequena”, fui informado também, não sei se foi V. Exª que falou ontem, que foi
aumentada a tancagem dos reservatórios de gasolina, e isto é grave, porque
infringe a própria lei. Apenas para comunicar que enviei ontem um telex a S.
Exª, o Sr. Prefeito Municipal. Digo mais, não tenho nenhuma esperança de ver
resolvido este problema, tenho sido pessimista, não tenho esperanças.
O SR. ERVINO BESSON: Vejam os Srs. Vereadores, inclusive nós
temos naquele colégio, que praticamente não tem cinqüenta metros de distância
do posto e tem mais de quinhentos alunos que estudam naquele colégio. E vejam
os Senhores, nós temos aí entre Av. Teresópolis, Av. Nonoai, Av. Cavalhada,
Eduardo Prado e Juca Batista, são cinco ruas, que a extensão dessas ruas não
são muito compridas, nós temos aí, Ver. Omar Ferri, nada mais, nada menos do
que dezessete postos de gasolina. Eu não tenho nada contra a iniciativa
privada, mas o que eu estou estarrecido e contrário é que existem ali postos
com grande riscos de vida para a população de Porto Alegre. Talvez algum
Vereador vá dizer que nunca houve acidentes deste nível com postos de gasolina,
mas vamos esperar que haja uma tragédia, uma catástrofe, para que depois se
faça alguma coisa? E sabemos que aquele posto de gasolina na curva da Cavalhada
é um terrível risco para a população daquela zona. E mais, Senhores, na frente
do Zaffari vai ser inaugurado, e está praticamente pronto, mais um posto de
gasolina. É um local de risco para a população, e além do mais ali tem uma
oficina, e o dono tem direitos adquiridos, porque está lá há mais de trinta
anos, e o posto fica encostado na oficina. Trabalham com oxigênio, com material
de risco que todos conhecemos, gasolina, solvente, etc., praticamente encostada
naquela oficina mecânica. E aqui também tem uma reportagem no jornal do
Gilberto Rocha Alberton que diz o seguinte: “Os anos 1970-1980 terminaram. O
mar passou a ficar agitado. Caso não apareça um cristo para salvar o barco, a
revenda poderá afundar”.
Depois traz uma série de considerações. E mais embaixo diz: “24 novos postos no Rio Grande do Sul, e nós temos, hoje, no Estado, índices menores de venda por posto de gasolina per capita”.
Então não é um problema de falta de postos. Ele coloca mais na sua
reportagem: “número de veículos e, inclusive, de diminutos Estados como Sergipe
e Alagoas”.
Vejam, Srs. Vereadores, que temos em Porto Alegre o menor índice de venda
por posto. O que é extremamente preocupante. E temos 24 novos postos, Ver. João
Dib. Não sou contra a iniciativa privada. O que me preocupa é a instalação de
postos em locais onde não é permitida: perto de colégios, de hospitais, em vias
de alto risco, repito, aquele posto da Av. Cavalhada. Talvez venhamos a chorar
aqui uma grande tragédia. Queira Deus que não!
O Sr. Luiz Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do
orador.) Estou atento ao pronunciamento de V. Exª, Ver. Ervino Besson, porque
esse bairro faz parte da zona Sul. Mas digo que a culpa também é da população,
porque, se houvesse uma mobilização da comunidade prejudicada, tenho certeza de
que a empresa, que já respondeu pelo jornal, e um dos diretores disse que tem
licença que ultrapassa este século para permanecer no local, ou seja, vai ao
século XXI, portanto, automaticamente isso aí somente a comunidade mobilizada
poderia travar a obra e fazer com que eles revissem essa instalação desse
posto, o aumento da capacidade dos tanques neste local. Obrigado.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Nobre Vereador Ervino Besson, eu disse há poucos dias que a
Prefeitura tem um belo código de obras e um plano diretor que estabelece
distância para a implantação de postos. A Sagol antigamente tinha dez postos, e
em 1987 terminavam as cessões, as transferências feitas para a Ipiranga e
Petrobrás, e o Prefeito Alceu Collares resolveu renovar a licença até o ano
2000, mas a Casa tem um exemplo, eu já disse a V. Exª, em 1972 e 1973, na Av.
João Pessoa, esquina José Bonifácio, desmancharam um posto para reconstruir
depois. Uma comissão externa da Câmara esteve no local, e aquele desapareceu,
não tem mais posto naquela esquina, então, talvez uma comissão externa da
Câmara, liderada por V. Exª, talvez chegasse até a fazer o que propõe o Ver.
Luiz Machado.
O SR. ERVINO BESSON: Ver. João Dib, inclusive esta Comissão que
parece que já foi pedida pelo Ver. Luiz Braz, ao qual eu pedi que ele me
incluísse nessa comissão, acho que tem que se estudar profundamente a
problemática da abertura dos postos de gasolina em nossos municípios.
A comunidade, a respeito daquele posto, Ver. João Dib, se mobilizou, eu
ainda até com um pouco de reserva confio na justiça, porque nós já fizemos
pedidos em termos de comunidade, juntamente com o Executivo Municipal, para que
a justiça embargue as obras daquele posto de gasolina, pelo menos este Vereador
ainda confia na nossa justiça, e vamos ver o que vai acontecer. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito é o Ver. Omar
Ferri.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. O
Vereador que me antecedeu, Ver. João Dib, protestou contra aquilo que ele
denomina de exagero que estaria ocorrendo nos gastos e nas despesas públicas
destinadas à propaganda do Município de Porto Alegre. Ele citou expressamente o
art. 125 da Lei Orgânica, que diz que “ficam os Poderes Executivo e Legislativo
obrigados a publicar bimestralmente a
despesa com publicidade e propaganda pagas, a relação de agências contratadas e
os veículos de comunicação utilizados”.
Se o inconformismo deste Vereador vai tão longe, ao protestar, aqui desta
tribuna, em caráter de veemência, e se o Vereador considera que as despesas
bimestrais com relação à publicidade não são publicadas pelo Executivo
Municipal, V. Exª tem, nesse mesmo artigo, outro dispositivo que permite frear
o exagero – se é que existe o exagero –, apenas argumento com base no
pronunciamento de V. Exª e admitindo, apenas para argumentar, a existência do
exagero, poderia ser aplicado o § 7º do mesmo artigo, art. 125, que diz:
“Verificada a violação do disposto neste artigo, cumpre à Câmara Municipal, por
maioria absoluta, determinar a suspensão imediata da propaganda e publicidade”.
Quero dizer que V. Exª poderá entrar por um desses caminhos.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte?
O SR. OMAR FERRI: Depois, Ver. João Dib, apenas para não tirar o
curso do meu pronunciamento.
Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não entendo mais os critérios desta
administração em matéria de postos de gasolina. Onde há o perigo e a infração à
lei, constroem-se postos de gasolina. E quando a comunidade pede, em outros
locais, a demolição do posto para, naquele lugar, construir-se um posto
policial, em defesa do patrimônio físico do povo de Porto Alegre, das crianças
que freqüentam as praças, como é o caso do posto de gasolina da Praça Pinheiro
Machado, o Governo Municipal cria casos, impede inclusive que a sociedade
organizada, como falou o Ver. Luiz Machado, se organizou em caráter
jurídico-social, formou uma associação para zelar pela praça, pois essa é a
sociedade organizada, organizada na defesa do patrimônio público, que é a
praça. A Prefeitura levanta frente ao interesse público, mil óbices e não
atende a uma justa reivindicação da comunidade que freqüenta a Praça Pinheiro
Machado, constante, em sua maioria absoluta, de crianças de 10 a 15 anos. Como
estão sendo difíceis as coisas com o atual Poder Executivo! E isso diz respeito
à incúria e à imprevidência. Agora, há questão de 48 horas, os jornais de Porto
Alegre publicaram uma matéria de duas senhoras que, trafegando pela Av.
Ipiranga, por um problema ou outro, caíram no Riacho e ambas se feriram. Pois
tenho aqui um Projeto de Lei que faculta a colocação de guard-rail na Av. Ipiranga. Esta Casa aprovou esse Projeto de Lei;
o Prefeito vetou; esta Casa derrubou o Veto do Sr. Prefeito. Esta Lei foi
publicada no dia 10 de abril de 1991. O art. 3º da Lei dispõe que o Executivo
Municipal regulamentará a Lei no prazo de trinta dias. Já se passaram 120 dias
e o Executivo Municipal, como ocorre com tantas outras leis, desta vez também
não regulamentou. Ora, e uma Lei, modéstia à parte, com Parecer do Ver. João
Dib, com Parecer do Ver. Artur Zanella e com a decisão desta Casa, inclusive
tendo derrubado o Veto aposto pelo Chefe do Executivo.
O Sr. Ervino Besson: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Ver. Omar Ferri, sinceramente, logo que me deparei com esse seu
Projeto de Lei, pessoalmente fui contra, mas depois, quando o Prefeito vetou o
Projeto, quando ele voltou a esta Casa, fui designado Relator do mesmo e,
consultando a comunidade, esta foi unanimemente favorável ao seu Projeto.
Então, tenho que me curvar perante a decisão da comunidade, porque são pessoas
que trafegam por ali diariamente e, como nós, estão sujeitas ao risco de
sofrerem um acidente naquela avenida, ao passo que com o projeto de V. Exª
teriam a ganhar. V. Exª, inclusive, sabe como foi o parecer, foi favorável à
derrubada do veto do Sr. Prefeito.
O SR. OMAR FERRI: Agradeço a V. Exª pelo aparte, que foi
muito oportuno, e vou usar do próprio argumento de V. Exª quando afirmou, há
questão de minutos, que pode ocorrer, eventualmente, um acidente de lamentáveis
conseqüências na curva da Av. Cavalhada, fazendo com que corra risco a saúde de
centenas de crianças que estudam num colégio que está situado mais ou menos a
cinqüenta metros daquele local, que é uma praça pública. Assim, também, ao
longo da Av. Ipiranga, que o Vereador diz que há o reconhecimento unânime de
que a Av. Ipiranga constitui a via de circulação de maior perigo da nossa
Capital – palavras de um ex-Prefeito Municipal –, mas não se regula a lei nem
se permite que empresas particulares coloquem guard- rails, isto é, a Prefeitura não gasta nenhum tostão. O que
me chama a atenção é a irreverência contra os interesses legítimos da população
de Porto Alegre. Não sei o porquê, tenho que me louvar nas palavras do Ver.
João Motta, então Líder do PT, que apresentou um parecer onde dizia que a
“implantação de guard-rails impediria
o livre acesso dos equipamentos que realizam a limpeza e a desobstrução do
canal do arroio”. Já o Ver. Zanella diz que no meio do arroio estão crescendo
árvores centenárias, até que isso não é desculpa. De mais a mais, se o problema
é impedir o livre acesso à beira do canal do Arroio Ipiranga para fins de
limpeza, podem ser colocados guard-rails
móveis. Ou não podem?! Ou será que não temos a arte e o engenho necessários
para colocar guard-rails móveis como
existem em todas as marginais da cidade de São Paulo, em todo o trajeto de cada
uma das marginais existem guard-rails.
Venho a esta tribuna para dizer que há pouco caiu um veículo conduzido por uma
senhora, amanhã cairá um caminhão, um automóvel de aluguel, um automóvel
particular, um ônibus, amanhã, como aconteceu em vezes anteriores, pode haver
conseqüências lamentáveis de gente morrer num desses acidentes, como já
aconteceu. Aí vou imputar culpa por estes eventos letais ao Sr. Prefeito
Municipal, que, por imprevidência, descaso, desídia, incúria, não cumpre o seu
dever de regulamentar as leis e propiciar que a população faça aquilo que a
Prefeitura, por descaso e desconsideração, não faz e nem cumpre. Muito
obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Não há mais orador inscrito. Encerramos
os trabalhos da presente Sessão.
(Levanta-se a Sessão às 16h18min.)
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